17 abr 2013

Charo Lopes, ativista independentista: "Fum julgada porque estava a luitar na rua"

Recolhemos de "Sermos Galiza" polo seu interés esta conversa de Beti Vázquez com a mulher condenada a um ano e nove meses de prisom por fazer parte dos protestos de 2009 no Morraço contra a marbelhizaçom da nossa costa. Aquelas mobilizaçons foram multitudinárias. Houvera cárregas policiais e dúzias de vizinhos e vizinhas imputadas.

Revoltába-se Teresa Moure no seu livro 'O natural é político' contra essa ideia de que defender a Terra é uma atitude própria de um romantismo exaltado e passado de moda, porque as pessoas, a estas alturas, não podemos renunciar ao progresso.

Em 2009 e canda milhares de pessoas, Charo Lopes rejeitou esse progresso nas ruas. Protestou contra o projecto do porto desportivo de Massó para defender a costa galega "da especulaçom". Porém, foi detida teve que sentar num lugar que ela própria define como "extranho e desconfortábel": o banco de acusadas.

Por que a iam julgar?

Por molestar. Para mim o sistema policial-judicial serve para nos explicar o que está bem e o que está mal.

Escrevem-no em uns papeis seus que chamam leis e, em base a isso, ameaçam-nos. Até chegam a queimar algumhas bruxas na praça, para que fique claro que som quem de o fazer.

Então, por que decidiu declarar-se culpada?

Porque, segundo valorou o avogado, era o melhor arranjo possível. O juizo é o seu jogo, as suas regras... até a sua linguagem! É umha situaçom completamente desigual cujo resultado é tam condicionante para a tua vida que te obriga a intentar jogar algumhas cartas. Participas sabendo de ínicio que é unha obra de teatro na que tes que estar; fai-se como que se reconhece o tribunal e disse o que mais compense.

Que provas tinham na sua contra?

A declaraçom da Guarda Civil. Di que me colheu no meio de distúrbios, com a cara cuberta, o qual judicialmente é agravante de disfraz, e umha mochila com umha garrafa de gasolina dentro. Presumivelmente teriam-me visto também atravessando dous contentores no meio da rua, prendendo-lhes lume e rebentando várias vidreiras do banco com umha barra de ferro.

Cada quem terá a sua estratégia para defender-se. Eu penso que é possível chegar ao mesmo cúmio desde distintos caminhos.

Mas o que considero evidente é que se em lugar de estar ali estivesse assinando umha petiçom de paralisaçom das obras em change.org ou botando pestes no facebook seguramente nom seria problema nengum, nem para o projeto de destruiçom de Massó nem para o sistema político. Fum julgada porque estava na rua.

Como lhe sentou isso de lhe ter que pagar uma indemnizaçom a um banco?

[ri] Que che parece? Que bochorno! Em fim... neste momento nom o vou pagar, se bem o Estado fica atento e à primeira cousa que atopem ao meu nome farám por cobrar-se. E a responsabilidade civil tarda 15 anos em prescrever, com o qual até os quarenta anos garanto que nom vou saír da precariedade.

Como foram as mobilizaçons em contra do porto desportivo de Massó naquela altura?

Os últimos bons anos da especulaçom costeira forom de importantes mobilizaçons populares e a resposta repressiva foi mui agressiva. Nada fóra do esperável. Mas a vizinhança reconheceu rápido os sipaios fora do coletivo, no lugar da indignidade e a vergonha; a mim fazia-me pensar nas históricas mobilizaçons das Encrovas, Jove ou Baldaio. Dúzias de vizinhas receberom golpes e imputaçons judiciais, há que lembrar que a luita pola defesa do Salgueirom foi longa e houvo pessoas defendendo a zona, manifestando-se e protestando de muitas formas durante muito tempo.

Neste momento o plano ali está parado, graças à oposiçom popular no momento do início do projeto e das obras, e agora também por causa da situaçom económica, evidentemente. Mas a desfeita da turistificaçom já deixou grandes estragos que ainda hoje som feridas abertas, especialmente nas Rias Baixas.

Mulheres galegas en defesa da nossa terra. Foi umha das legendas que pediram a sua livre absolución na rua.

Isso somos, nom? As mulheres ainda conservamos um vínculo importantissimo com a terra e com o mar. Reconhecemos e reconhecemo-nos nos ciclos da natureza... Estamos historicamente ligadas ao agro, e à exploraçom das Rias.

Aliás o sector primário é o eixo da autosubsistência, fundamental e muito frequente até há bem pouco na Galiza. E também temos um vínculo forte através da saúde e o desfrute: ir à praia, fazer desporto, por exemplo eu practicava remo e isso úne muito ao mar. E, como di a cançom: quando se aprende a chorar por algo, também se aprende a defende-lo.

Mas também, neste caso de solidariedade, penso que há mais um vínculo que salientar: o das mulheres entre nós. A sororidade. Reconhecérmo-nos umhas nas outras. O feminismo é o posicionamento mais radical em quanto a propor rupturas com o actual estado de cousas, e também a iniciar a construçom de alternativas desde já.

Uma recente informaçom publicada pelo jornal da dereita espanhola ABC vincula organizaçons sociais e colectivos ecologistas com a "organización terrorista Resistencia Galega". Há interesse por criminalizar a acçom de qualquer colectivo em defesa do País?

[risas] Eu penso que temos que normalizar as nossas vidas na criminalidade, na ilegalidade, na precariedade... e na felicidade, claro! Opor-se à vontade aniquiladora do espanholismo, opor-se à apisonadora capitalista implica erguer umha barricada de resistência galega. Dá igual que seja em forma de autodefesa violenta, de comedor popular, de associaçom vizinhal, de auto-organizaçom da mocidade ou de refresco de cola. Para o esquema de leis e valores hegemónico é um crime.

Em qualquer caso, a respeito da criminalizaçom eu nom meteria muitos esforços em rebater-lhes nada, seja verdade ou mentira. Simplesmente em desacreditar o interlocutor. E falar desde um novo paradigma, próprio, com o nosso esquema de valores. Para mim a inocência ou culpabilidade que dictaminam os seus juizes ou os seus mass-media nom representa critério nengum. É importante criar a nossa própria legitimidade, a nossa justiça. E a nossa informaçom, por suposto.

Pela mensagem atirada desde interlocutor que quer desacreditar, você pagou réditos laborais.

Si. Naquela altura estava fazendo práticas como jornalista no semanário A Nosa Terra e, a raiz da minha detençom, fum despedida. Como se tratava dum contrato de práticas de formaçom, sem garantias nengumhas, largarom-me sem complicaçons.

Em parte também graças ao posicionamento da facultade ao lado da empresa. Fum despedida por um assunto claramente extra-laboral, extra-formativo, e vulnerando qualquer presunçom de inocência. Eu nom fora julgada, e a detençom nom supujera nengum incumprimento no desempenho do meu trabalho.

Foi umha actuaçom absolutamente parapolicial. Na altura da detençom apenas tivera repercusom nos meios oficiais, mais fora a policia quem falara com eles. Explicáron-mo todo, como se fora razoável e a única saída possível: que nom podiam estar ligados a esse tipo de pessoas conflitivas, que já tiveram problemas na altura do EGPGC --Exército Guerrilheiro do Povo Galego Ceive--, que se o Ministério de Interior já lhes dera aviso de nom dar cabida a essa gente...

Em fim, um esperpento. E um posicionamento que me deixou chocada e dorida, já que nom estava à espera de que de esse âmbito fora receber um golpe deste tipo.

É também uma das quatro imputadas por 'enaltecimento' pelo libdub de Ginzo.

Si, também. Mais do mesmo, nom? Se calhar neste caso é ainda mais escandaloso polo tipo de delito. Imputam-nos por aparecer num vídeo musical mostrando fotos da gente que nos tenhem sequestrada... Para mais inri fotos de pessoas que nem julgadas forom.

Em que acha que acabará?

Aguardo que em nada. Porque entom já se abre a veda a todo vale.

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